quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sobre se sentir estrangeira.

Li hoje uma crônica da minha tia sobre o assunto. Engraçado, tava precisando de um empurrãozinho pra voltar a escrever e ele me bate assim, tão de repente. Não é um assunto da qual eu nunca falo, outro dia mesmo falava com minha mãe sobre essa constante sensação de divisão. A verdade é que eu não tenho mais uma vida. Eu tenho, se muito, 3/4 da minha vida aqui. E 25% de uma pessoa é pessoa demais pra gente não dar falta.

É estranho. Por mais que eu me sinta à vontade em Goiânia, sempre vai ter aquele quê de menina metropolitana em mim que me denuncia. E nem é só o sotaque. Não é só a maneira de dizer mushquitu e pashtel. É um pouquinho da maneirade ver e sentir todo o mundo, e até nós mesmos. Apesar de que eu às vezes acho que me levo a sério demais para uma carioca de verdade. É que eu não sou mesmo mais carioca de verdade. Quando eu tou no Rio, falta um outro pedaço meu preu ser mesmo de lá. Eu não sei exatamente o que é. Não viver numa cidade faz de você um estranho nela. Faz com que você perceba coisas que os moradores não percebem mais. Um certo jeito de pensar que parece tão comum você acaba descobrindo que é só o jeito padrão de se pensar lá. As palavras. Os gestos. Até a maneira de abraçar muda.

E eu sou um et em qualquer lugar. E é estranho porque até hoje, toda vez que alguém pergunta de onde eu sou, dói discretamente um pedacinho qualquer pequenino do meu coração. E essa pergunta aparece tanto aqui quanto lá. Li hoje também que o estrangeiro sente mais falta de um tempo do que de um lugar. Talvez seja mesmo verdade. Eu sinto falta do tempo que eu não era dividida. E hoje sou um conjunto tão confuso de fragmentos que mesmo eu me perco. E aí eu cobro que os meus amigos entendam. Ou que seja lá quem for entenda como eu me sinto em relação a isso tudo. E é impossível. A gente só se aproxima mesmo do que é o outro. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...", diria, não tão longe da minha linha de raciocínio, o Caetano. (Foi mesmo o Caetano!?). Ou Titãs, "cada um sabe a alegria a a dor que traz no coração".

Sinto saudades. Essa é a mais pura e indubitável verdade da minha vida. Eu estou sempre sentindo saudade. Eu estou sempre meio manca. Sou na verdade eternamente uma claudicante criatura.

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